Lições da Copa

por Onevair Ferrari em 23.07.2014

Passada a festa da copa, 32 dias em que o país literalmente parou, podemos tirar algumas valiosas lições do sucesso e do fracasso dos projetos envolvidos neste grande evento mundial patrocinado por cada um de nós brasileiros.

No futebol, nossa seleção poderia ter se saído melhor no projeto de conquistar o hexa, analisando mais profundamente os stakeholders, estimando melhor os prazos necessários ao treinamento coletivo, buscando mais informações, planejando melhor as ações de ataque e de defesa. Houve muitos abraços, muitos beijos, muito choro e pouco resultado. Este projeto foi encerrado sob a comoção do 7 x 1, sem ter os objetivos alcançados. O gerente de projeto paizão, caloroso, full soft skill, perdeu para o gerente de projeto técnico, frio e full hard skill.

No turismo, conseguimos elogios dos visitantes estrangeiros, muito mais pelas belezas naturais do nosso país e principalmente pela receptividade, alegria e calor humano do povo brasileiro, mesmo com poucos falando inglês. Mas o turismo foi um coadjuvante muito tímido do grande evento, deixado quase ao acaso. Perdemos a enorme oportunidade de criar estruturas melhores e promover destinos turísticos importantes, fora das cidades sede, que poderiam estender o interesse estrangeiro e render frutos por muitos anos depois de encerrada a copa. Este foi um projeto que, aparentemente, nem foi iniciado.

Os estádios foram a prioridade nacional – e também da FIFA – e neste campo, o escopo foi quase todo concluído, mas a custos muito superiores ao estimado inicialmente e a prazos de causar calafrios internacionais. Enquanto a FIFA pretendia tê-los na programação ASAP, os empreiteiros trabalharam na ALAP, com o estádio de abertura ficando “pronto” menos de uma semana antes da abertura. Aqui também se pergunta como serão aproveitadas estas milionárias instalações depois da copa...

No campo da ética, enquanto muitos brasileiros descentes dedicaram madrugadas na tentativa de ingressos oficiais no site da FIFA, presenciamos a festa dos ingressos paralelos e conhecemos a quadrilha internacional de “cambistas credenciados”. Para a grande maioria dos brasileiros ficou a frustração de ter vivido uma copa no Brasil, sem ter conseguido ir a nenhum jogo.

Muitos outros projetos previstos no portfólio da copa ficaram pelo caminho, especialmente de estradas, acessos, urbanização, transporte, portos, aeroportos, mobilidade urbana, hotelaria, segurança, saneamento, capacitação profissional, etc.

Repetiram-se muitos dos erros cometidos nos Jogos Panamericanos de 2007 no Rio de Janeiro. Lições não aprendidas? De uma maneira geral, os prazos ultrapassaram todas as estimativas. Os custos ficaram muitíssimo acima das estimativas. O escopo não foi totalmente realizado. A qualidade de alguns produtos é questionável. Faltou gerenciamento de projetos? É um contracenso num país com 15.616 PMP´s certificados, 13.505 membros distribuídos em 15 capítulos do PMI e um sem número de cursos de Gerenciamento de Projetos que bombardeiam nossas caixas de e-mails todos os dias. Algo está errado!

Ficou claro que não adiantam as mandingas – as mesmas roupas para dar sorte – e não dá mais para confiar no jeitinho de última hora. A esperança é de que o Brasil acorde, mude a crença de ganhar sem esforço, da esperteza preguiçosa e aprenda a trabalhar com preparo, empenho, disciplina e honestidade. O Brasil da copa tinha sonhos, mas não tinha planos. Como será o Brasil das Olimpíadas de 2016?

Onevair Ferrari, DSc, MSc, PMP é professor, consultor, palestrante e coach em Gerenciamento de Projetos e diretor da Nexor.
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